16.10.12

Última paragem em Tanganika.

Antes de chegarmos a Ngorongoro visitámos uma vila masai. Há imensas espalhadas pelos parques nacionais da África oriental, só na Tanzânia são mais de 400 mil masais que podem viajar livremente entre as fronteiras do Quénia e Tanzânia. Não têm receio dos animais selvagens, explicou-nos um deles, os animais é que têm medo deles. E matar um leão dá-lhes uma grande fama e valor dentro da comunidade.

Fizeram uma dança masai, saltámos com eles e fomos inundados de bijuteria masai que nos queriam vender. Quando demos por nós já tinha 20 colares em cima, 50 pulseiras e outras traquitanas. Lindas mas caras. Visitámos uma das cabanas, que são construídas pelas mulheres com estacas de acácia, lama e esterco de vaca. Estava muito escuro, tinha uma pequena fogueira que eles chamam cozinha, um buraquinho que era a janela e uma zona com paus e pele de animais que era a cama. Só passado alguns minutos depois de lá estarmos os cinco sentados, com a vista a habituar-se à escuridão, é que percebemos que estava também uma pessoa a dormir.


Cada masai pode ter uma série de mulheres mas cada mulher vive na sua própria cabana. Parece-me bem. Todas juntas, só podia dar para o torto. Os homens caminham muito pela savana enquanto pastam o gado e o filho do chefe, que falou connosco num inglês irrepreensível, chegou a palmilhar 70 kms num só dia, sem comer nem beber, para vender apenas uma vaca, por sinal doente, no lado queniano. Ainda eu me queixo quando corro 10 quilómetrozinhos. É outra fibra, sem dúvida.

Mostraram-nos a escola da vila onde vão as crianças até aos seis anos. Cantaram para nós com aquelas vozinhas pequeninas e empenhadas. Quando fazem 6 anos, se tiverem dinheiro vão para as escolas fora da vila. Por isso é tão importante que os turistas visitem as vilas, sempre é algum dinheiro que ganham para comprar coisas como medicamentos e toda a alimentação, pois para além do gado não cultivam nada.


O chefe desta vila tem 98 anos mas andava por aí a pastar as vacas, sabe-se lá onde. É um povo parado no tempo, mas com todo o encanto que isso carrega. Andam vestidos com mantos onde predomina o vermelho e as meninas já anunciaram que se querem mascarar de masais no Carnaval. A Rita entretanto mudou de ideias. Mas quando saiu de lá, basicamente queria ser uma masai. Tantas jóias e berloques é a carinha dela.

A caminho de Ngorongoro o nosso guia, que tinha olho de lince, avistou um bando de leoas à sombra de uma árvore mesmo na beira da estrada. Foi o delírio. Mesmo depois de vermos tantas vezes estes animais poderosos, ficávamos em êxtase quando estávamos cara à cara com o rei da Selva. Durante o safari dentro da cratera, onde há poucas árvores (apenas nas encostas) os leões andam sempre à procura de sombra e basta um jeep parar perto deles, para logo se movimentarem para a sombra projectada pelo carro. E isso aconteceu com um que estava ao nosso lado, mas a leoa pôs a cauda de tal forma, que se o jeep andasse ou lhe pisava a cauda ou o corpo. E ela não estava com muita vontade de se mexer. Foi engraçadíssimo. O jeep bem punha o motor a funcionar para tentar que ela se levantasse, mas era como se nada fosse, nem pestanejava, nem sequer um olho abria. Estavam condenados a ficar ali até à noitinha. São lindíssimos, mas são uns sornas de primeira. Os leões dormem 20 horas por dia. E a senhora dona leoa é que caça.

Quando chegámos ao hotel no cimo da cratera, percebemos que íamos rapar um grizo daqueles. Não fomos muito bem preparados para o frio, já andávamos a repetir calças imundas e sweats há alguns dias. O lodge era antigo, mas tinha uma vista soberba para a cratera. Só que as janelas nos quartos não tinham qualquer tipo de calafetagem, os cortinados esvoaçavam dia e noite. Os aquecedores era como se não existissem e tomar banho era um pânico, cada vez que tínhamos que sair da água quente para o ambiente frio. Mas à noite deixavam um saquinho de água quente para cada um, que era um mimo.

No safari na cratera vimos finalmente o único dos Big Five que ainda não tínhamos avistado. O rinoceronte. Estava muito vento e eles normalmente escondem-se porque são muito sensíveis ao som, por isso só os avistámos bem ao longe. Mas fizemos uma festa, era o único que nos faltava.

A cratera deixou muitas saudades. Siga para Zanzibar. Num voo a hélice, como eu gosto.



1 comentário:

Catarina Trindade disse...

Adoro a nova imagem :) e Adoro continuar a ler-te!