Mas tenho que me aguentar até 5ª feira sem comer pães de leite. Agora que eu conheci os pães de leite da Padaria Portuguesa. Batata, pão, massa. Crepes com nutela. "Ah e tal, até 4ª não podes, depois a partir de 5ª feira, enfardas." Ok, senhor PT de rua. Gosto da parte do enfardar. Nós (eu e Catarina) cumprimos. Tristes, insuportáveis, alteradas e descompensadas, mas cumprimos.
Eu e a minha companheira de estrada corremos desde 2009 e já fizemos duas meias maratonas e muitas corridas por essa cidade fora. Somos muito focadas em objectivos e esmorecemos com alguma facilidade se não os conseguimos alcançar.
Vamos aqui esclarecer uma coisa: eu não gosto de correr. Correr custa como tudo. Mas adoro a sensação no fim da corrida, de saúde, de dever cumprido e de nos irmos conseguindo superar. Prazer como tinha quando jogava ténis, nunca senti. Talvez no 1º, 2º km consiga ter esse sentimento de liberdade, ao ouvir música boa, de andar aí pela rua aos saltinhos. Mas o resto do tempo vou a arfar como um cão com esgana. Dói-me a alma, penso em parar de 30 em 30 segundos, tenho sede, irrita-me o pinguinho de suor que escorre pela testa e que me faz cócegas, ou o cabelo que se desprendeu do gancho e anda ali para cima e para baixo, ou o suor que escorre para os olhos e que me arde, ou o fio do ipod que se enrola no braço, ou fico enjoada, ou com frio interior que é uma coisa estranhíssima que sinto durante as corridas em que vou a puxar mais.
Vou numa luta interna constante. Se conseguisse falar, barafustava com toda a gente que ousasse aproximar-se a um metro de mim. Tudo me incomoda. Mas não consigo falar. Nem ouvir. Quando o Nuno corre comigo, no fim da corrida em que ele torce por mim, me espicaça e "faz assim e faz assado, levanta os pés, dá saltinhos, os pés menos tempo no chão, tem que doer, respira assim, respira assado" e eu arghhhhhhhhhh, cala-tiii! Pareço aquelas mulheres no fim do parto em que o marido diz: força força, push push! e elas não suportam e expulsam o marido da sala de partos. É assim que acontece. Ele agora já sabe. Basta estar ali ao lado, caladinho.
Somos umas meninas, como o Nuno nos diz. E somos mesmo. Treinamos que nem umas moiras mas queixamo-nos de tudo. Mas acho que já alcançámos muitos feitos. E já não escolhemos os percursos só planos (já não suportamos Belém, argh até me dá náuseas), e até a fazer aquelas subidas puxadas em Monsanto andamos. Estamos menos meninas. Mas levamos na cabeça na mesma. Eu porque páro para beber água. Devia beber a água em andamento. Ou porque vou a ouvir música enquanto devia ir a ouvir o corpo. Ou porque só como porcarias. Ou porque não respiro pelo nariz. Ou porque não me dói nada no fim e devia doer. Ou porque não cumpro os tempos que estão nos treinos ou porque páro no Verão. Em Julho e Agosto meto baixa na corrida. E
deito todo o treino desde Janeiro por água abaixo. Chego a Setembro com
1001 objectivos mas com a forma de uma tartaruga com diabetes. Arrependo-me amargamente.
Mas também levo muitas festinhas porque o meu PT de rua também sabe incentivar-me como ninguém. E é ele que me aconselha e me dá alento. E ele sabe como eu sou preguiçosa e como a minha cabeça muitas vezes tem vida própria e não é fácil de domesticar. Mas a corrida foi como um bichinho que se entranhou assim de repente. Fui contagiada pelo Nuno, pelos meus cunhados, pelos amigos. Enquanto eles já correm maratonas por esse mundo fora e fazem tempos do além, eu vou tentando melhorar o mais que consigo.
Dia 28 os pros da família vão correr a Maratona do Porto. As ladies 15 km e a minha Joaninha vai correr 6 kms e treina com uma devoção contagiante.
Mas não esquecer como isto tudo começou: com o trambolho. Nota-se portanto alguma evolução :)