29.6.10

Então ao que é que querem brincar?

"Aos pais e às mães!!"

Quando a resposta é esta, saio logo de cena. Ainda por cima sou sempre a mãe, a Rita é sempre a filha mais nova e a Joana a filha mais velha. Fotocópia da nossa vida sem tirar nem pôr. Dêem-me outro papel. O bebé que fica deitadinho na espreguiçadeira ou o candeeiro lá de casa. É que dou logo à sola. Aguento ser a professora, a aluna nova, a cabeleireira ou a senhora doutora. Agora mãe não, violão.

Depois é a discussão sobre quem é a mais nova. As duas querem ser as bebés. Não sei, há algo de muito atractivo no facto de poder voltar a gatinhar e falar sem consoantes. E arrastarem-se agarradas às minhas pernas. A Rita é mais fervorosa neste pedido. Bate o pé até conseguir ser o benjamim. A Joana normalmente até lhe faz a vontade mas se não está para aí virada começa a parvoeira.

Rita - eu é que sou a mais nova!
Joana - não, eu é que sou!
Rita - eu tenho zero anos.
Joana - então eu tenho -1.
Rita - não podes, não existe!
Joana - posso, posso, não posso mãe?

Joana - então mandamos moeda ao ar para ver quem é a bebé. Cara ou coroa?
Rita - coroa (óbvio....)
Joana lança a moeda.
Joana - ups! Coroa. Então vá, quem ganhar o cara ou coroa TRÊS vezes seguidas é a bebé.
Rita - ó mãeeeeeeeeeeeee!

E ficam nisto eternamente. Quando lá se entendem (se é que se chegam a entender e não acabam as duas de tromba uma para cada lado) é hora de ir para o banho, ou hora de jantar e nunca passam da distribuição de papéis.

É assim que às vezes se brinca cá em casa.

28.6.10

Acabaram oficialmente


as festividades do fim do ano lectivo. A festa da escola foi muito divertida como sempre. Eu vibro sempre com cada detalhe, com cada musiquinha, com o entusiasmo dos miúdos. A Rita este ano já conseguiu meter os pés no palco e apesar de na 1ª música não ter tirado os olhos de mim em vez de seguir a professora de inglês nos gestos, nas outras já estava muito mais à vontade. Comparando com o ano passado em que ela não descolou de nós para ir para o palco, este ano foi muito bom. A Joana diverte-se à grande. Mexe o corpo enquanto canta, cheia de ritmo e sem ponta de timidez. Fiquei espantada com o que eles já cantam em inglês.

Gosto mesmo de contemplar a Joana nestes dias. Gosto de a ver feliz no meio dos amigos e de uma escola onde ela se sente tão bem. Peço ao tempo para andar devagar para não chegar o dia em que ela se vai ter que se despedir do colégio onde cresceu. Depois de perceber que as mães dos finalistas dos meninos do 4º ano se sentem como se tivessem levado uma carga de pancada depois da festa de despedida, prevejo uma neura sem fim quando for a vez da Joana. Ainda faltam 3 anos, mas o tempo voa e só de pensar, fico logo de estômago embrulhado. Algumas compreendem-me. Outras acham disparate. E se calhar é. Mas eu sou assim, emocional até à medula. Por estas bandas a racionalidade fica-se pelo pai. Eu desfaço-me em sofrimento por antecipação. Gostava de ser diferente, mas há coisas que nós não controlamos. Vivo as coisas das miúdas com muita intensidade. E crio laços com tudo e com todos. Não são só elas que andam naquela escola, parte de mim também lá está todos os dias. E acho mesmo que vou sofrer mais com a partida delas para outra escola, do que com a minha há 25 anos atrás.

Deste 1º ano da Joana, só tenho elogios a fazer-lhe. Fora o facto de ser faladora, aprendeu a ler, a escrever, a fazer contas, algoritmos, problemas, composições, interpretações, tudo num abrir e fechar de olhos. Boas notas e gosto em trabalhar. E trabalharam muito. Mesmo doentes tínhamos que ir buscar os trabalhos à escola, para eles irem fazendo se conseguissem. Foi dose mas valeu a pena. Adoro vê-la entretida a ler um livro. Livros grandes, já cheios de páginas e pormenores. É um mundo novo e gostava mesmo que ela ganhasse gosto pela leitura.

Este ano da Rita já correu muito melhor. É raro o dia em que fica a chorar na escola. Ainda preferia ficar em casa, mas já se conformou que é ali que tem que estar. Na sala é muito participativa, independente e gosta muito de trabalhar e de desenhar. E desenha cada vez melhor. Para o ano quer ir para o ballet. Só não sei se depois vai achar graça à rigidez da coisa. A Joana por seu lado quer experimentar o judo, ténis e futebol. Gostos completamente opostos. É como ter um casalinho de filhos.

Foi um ano muito bom que, como todos os outros, passou a voar. Mas só as coisas boas passam depressa. Por isso que continuem a esvoaçar. É bom sinal.

18.6.10

Traumas e traumatismos.

Peixe novo, azulinho (não havia cor-de-rosa) arrumou o assunto da morte prematura do anterior. Dá-me sempre pena ter peixes enfiados em aquários pequenos e com plantas de plástico. Mas o primeiro foi-lhe oferecido e este foi por força das circunstâncias. Tenho que lhe tentar melhorar o lar. A Rita até flores dos Pinipons lhe pôs lá dentro para o animar.

Dos traumatismos já se está melhor cá em casa. O galo baixou bastante e o sangue desceu até aos olhos, de maneira que temos um panda cá em casa. Houve um dia que estava tão azul debaixo dos olhos, que uma colega da Joana lhe perguntou se tinha sido a Rita que a tinha maquilhado debaixo dos olhos. Tão inocentes. Ela toda escafeada e pensam em maquilhagem!

14.6.10

o que é que eu faço a esta cachopa?

Que é macaca já não é novidade, mas ultimamente é propensa a todo o tipo de acidentes. Não há um dia em que não venha da escola com betadine nos joelhos, ou com o stick milagroso anti-hematomas nas pernas. São quedas umas atrás das outras. E não podia ser de outra forma. A Joana por defeito não está com os pés no chão. Se há um murinho por mais pequenino que seja, num raio de um quilómetro, ela está lá em cima. Se há uma árvore minimamente estável, ela está pendurada. Mesmo na rua, ela não vai no meio nem no lado mais seguro do passeio, vai antes na beirinha para fazer equilibrismo na parte mais perto da estrada. Quando era pequena estava constantemente com nódoas negras na cabeça, tantas que chegámos a ponderar um capacete. Agora são as pernas e os cotovelos que parece que estiveram na guerra tais são as nódoas negras, os arranhões e os joelhos esfolados. Fora as boladas que leva na cara que a deixam com as bochechas arroxeadas.

Tem energia a mais que vai ter que ser canalizada para um desporto qualquer que a deixe mais calma. De rastos mesmo. Está constantemente a desafiar a lei da gravidade e não há um dia em que não se estatele em casa contra uma parede ou uma porta porque anda de meias a fazer raides e acaba por escorregar. Quando tinha dois anos escorregou num tapete e foi bater de tal forma na esquina de uma porta que ficou com um galo como este e com os olhos todos negros. Era Carnaval e fomos ver um cortejo a Loures e ainda ouvi o simpático comentário "esta nem precisa de se mascarar eh eh eh", fora os olhares reprovadores de quem achava que a criança era vítima de violência doméstica. O hematoma durou meses a passar e 5 anos depois ainda tem um nódulo na testa que não foi absorvido.


Este fim-de-semana a saltar de uma espreguiçadeira para um murinho, o pé escorregou e ela foi cair com a testa na tijoleira e ainda conseguiu dar uma cambalhota de seguida. Quando a fui apanhar achei que ia ter uma perninha no sítio dos bracinhos e as mãos no sítio dos pés e que ia ter que recolher os dentes espalhados pelo chão. Afinal "só" tinha 3 metros de galo em segundos e um hematoma na barriga. Muito gelo, e a coisa compôs-se.

Mesmo assim consigo sempre ver o lado positivo da coisa, depois de me recompor e de me passar a vontade de lhe dar uma trolitada no cachaço porque não pára quieta, e acho sempre que ela tem uma sorte dos diabos no meio do azar, porque as quedas são de tal maneira aparatosas que estou sempre à espera de lhe ver as entranhas. Já a assustei a dizer que se parte algum braço ou perna que passa o Verão inteiro de gesso sentadinha à sombra da bananeira enquanto os outros se divertem aos mergulhos no mar e na piscina. Lá lança um esgar de horror que lhe passa num instante. Ontem à noite já estava enfiada em cima de um muro com um metro de altura. Levou um berro que nem se endireitou.

Mas quem é que aguenta?

11.6.10

Ontem

morreu o peixinho da Rita. Tinha-o recebido no dia de anos, em Março deste ano. De manhã estava caído no fundo do aquário e ela pensava que ele estava a dormir. Mas como não lhe ligou grande coisa e a mim não me apeteceu guardá-lo para o enterrar mais tarde achei que era aceitável a ideia de ir pela sanita abaixo para ir dar ao mar e ir ter com a sua mamã. Para a Joana esta explicação não fazia sentido. Mas então os cocós vão dar directamente ao mar? Lá lhe tive que explicar que estes floreados eram todos para a Rita não ficar triste.

Cerimónia fúnebre concluída com peixinho na sanita e um flor atirada em jeito de despedida, a Rita puxa o autoclismo e sai como se nada fosse. Passados uns minutos começo a ouvir um choro baixinho. Lá estava ela enrolada num canto do quarto, com lágrimas a correr pelas bochechas (uma com o dobro do tamanho por causa da picada de um mosquito), que queria o peixinho, que tinha saudades do peixinho. Fiquei com um peso na consciência enorme, achei que ela não estava nem aí para a morte do animal e optei pela solução mais rápida. Se soubesse que ela ia reagir assim, tinha dito que sim, que o peixe estava a dormir uma bela soneca e sem ela perceber tinha-o substituido por um igual mas menos moribundo e a rapariga não teria que ter lidado com a morte e com uma despedida em frente a uma retrete.

Prometi um igualzinho para o dia seguinte. Até dois se ela quisesse, mas o choro continuou. Chegou mesmo a acordar às quatro da manhã a choramingar que tinha saudades do peixe. Depois de enterrar tudo o que não mexia num raio de um quilómetro no último fim-de-semana no Alentejo, este peixe tinha merecido melhor destino. Todos os peixes que alguma vez tive, foram enterrados com dignidade. Não sei o que me deu.

A preguiça é uma coisa muito feia.